“São das crises que saem os melhores modelos de negócio.” É com essa frase que Noah Stern, sócia da Cloud9 Capital, opina sobre o atual momento econômico e o questionamento sobre ser este, ou não, um bom momento para investir em startups. “A restrição de caixa das empresas faz com que os fundadores reflitam sobre qual é realmente seu modelo de negócio e quais verticais vão ser mais rentáveis e escaláveis, deixando de lado potenciais distrações”, diz.
A verdade é que a situação imposta pela pandemia tornou o mercado muito mais difícil, inclusive para as startups. As altas taxas de juros secaram a liquidez vista nos últimos anos e isso impactou o dinheiro disponível para investimento em novos negócios.
Mas pessoas experientes do mercado não veem nesse cenário um ambiente inadequado para novos investimentos. Ao contrário. Jorge Paulo Lemann afirmou, recentemente, que o cenário difícil é, na verdade, uma oportunidade para investir em negócios de fato disruptivos.
“Acredito que os próximos anos serão muito favoráveis para fazer novos investimentos em startups”, concorda Phillip Trauer, principal no Valor Capital Group. “Correções de mercado tornam a vida de investidores mais fácil. Passamos por um ciclo que se estendeu por quase vinte anos, portanto, nada mais saudável que uma correção após muita liquidez e euforia no mercado.”
Foco em disciplina financeira
Para Trauer, correções como a atual forçam empreendedores a terem uma mentalidade de criação de negócios mais sustentável, com maior foco em disciplina financeira, e na construção racional de negócios para o longo prazo. “Importante pontuar que essas correções alteram dinâmicas competitivas de mercado”, diz. “Por exemplo, em um ciclo de alta liquidez, qualquer ideia interessante logo atrai diversos competidores, dado o maior apetite a risco por parte dos investidores. Nesse cenário, os players muitas vezes se degladiam, procurando crescer a qualquer custo, competindo por talento, e por capital subsequente.”
Agora, o que se vê, é uma mudança de paradigma nas startups. Se antes elas tinham menor preocupação com sustentabilidade financeira e com manter um caixa positivo no começo do negócio, focando prioritariamente em crescimento, agora empreendedores conscientes procuram adotar uma estratégia pautada no “core business” das suas empresas, tendo muitas vezes que abandonar sonhos de conquistar adjacências, assim como a abertura de novos mercados, parte do motivo de muitas das atuais demissões, explica Trauer. “Ademais, focando no ‘core’, a atenção passa a voltar para o ajuste do ‘unit economics’ e para o cliente. Em um segundo momento, acredito que haverá muitas oportunidades para M&A, dado que muitas empresas vão ter dificuldade de acessar capital. Sou bastante positivo em empresas que aderirem a essa mentalidade para se fortalecerem na crise.”
Noah complementa dizendo que o atual momento é de reflexão, de entender os fundamentos do negócio. “As melhores empresas saem da crise ainda mais fortes e os investidores procuram exatamente isso”, diz.
Para ela, o atual cenário não vai mudar em três ou quatro meses, então as empresas precisam ser sustentáveis e crescer de forma saudável, e não necessariamente contando com capital abundante sempre.
Vagas em startups ainda existem?
Ainda que algumas startups estejam demitindo, Noah afirma que pessoas boas, que se encaixam na cultura e trazem valor para o desenvolvimento do negócio como um todo, sempre terão as portas abertas nessas empresas, independentemente das condições de mercado. “Com certeza as melhores empresas, que vão sair ainda mais fortalecidas de um momento de mercado delicado, são aquelas que investem no talento e em pessoas-chave que impactem positivamente o futuro do negócio”, afirma. “Acredito que as empresas vão sair mais fortes da crise, pois os modelos de negócio vão ficar ainda mais sólidos, além de aprenderem a fazer mais com menos.”
Trauer comenta que no campo de talentos de tecnologia, desenvolvedores brasileiros continuam sendo atrativos para empresas de fora que contratam aqui no Brasil e remuneram em dólar. “Deve continuar sendo a área mais cara e difícil para se contratar para as startups”, diz. No campo de C-Levels, ele acredita que as startups vão conseguir continuar atraindo talentos seniores de grandes corporações, porém, da mesma forma como investidores vão elevar a barra, empreendedores farão o mesmo.
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