A saúde mental já era um tema em discussão no cenário pré-pandemia. Mas é bem verdade que nos últimos dois anos o assunto ganhou ainda mais evidência, até mesmo dentro das empresas.
“A situação política e econômica, unidas à pandemia e todas as mudanças que ela trouxe em nossas rotinas, têm causado impactos negativos na saúde física e mental dos brasileiros”, comenta Karen Ramirez, que trabalha há 24 anos com recursos humanos.
Karen traz dados. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país mais ansioso do mundo e, de acordo com o IBGE, a depressão aumentou 34% no Brasil e atingiu, em 2021, cerca de 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população).
Afinal, o que as empresas têm a ver com a saúde mental das pessoas?
A falta de humanização vista em parte das empresas e a impossibilidade de o funcionário exercer a sua individuação, que é a expressão do indivíduo na sua verdade interna, mais íntima e pessoal, podem contribuir com transtornos de saúde mental como ansiedade, depressão e burnout.
“As máscaras sociais, usadas por todos nós e que têm uma função diante das regras de funcionamento de empresas e a sociedade, quando ficam exageradas não deixam espaço de individuação. E aí o indivíduo não tem expressão, tem pouca voz”, afirma o médico Ricardo Pires de Souza, analista junguiano e especialista em psicologia profunda.
Para ele, o RH deve promover uma espécie de equilíbrio entre as necessidades de regras comportamentais e a possibilidade de o profissional ter uma expressão individual um pouco mais livre.
“É uma busca por um ponto de equilíbrio”, diz.
Além desse aspecto, mais profundo e que envolve a cultura da organização, Ricardo comenta que ações pontuais, como a “casual Friday”, também têm seu valor, justamente por aumentar o espaço de liberdade do funcionário.
O médico também recomenda fortemente que os RHs levem em consideração, na hora de contratar os benefícios de seguro saúde, as condições de reembolso para psicoterapia individual. “É uma maneira de dar a possibilidade de o funcionário fazer essa psicoterapia”, afirma. Como é sabido, a psicoterapia e o processo de autoconhecimento ajudam as pessoas a manterem a saúde mental.
O aumento de transtornos de saúde mental nas empresas
Karen lembra que algumas organizações já vêm discutindo seu papel e responsabilidade diante do preocupante cenário de aumento de transtornos de saúde mental. Mas, como mostram dados trazidos por ela, apenas 18% das organizações atuantes no Brasil declaram ter um programa para cuidar da saúde mental de seus funcionários.
Isso diante de um quadro em que a depressão foi a principal causa de pagamento de auxílio-doença não ligado a acidentes, com 31% dos casos em 2020, e os transtornos comportamentais e de saúde mental são a terceira causa de afastamento de trabalhadores no Brasil, assim como o estresse crônico se tornou o principal fator de risco para a saúde dos executivos. Segundo estimativas da OMS, depressão e ansiedade custam à economia global US$ 1 trilhão ao ano em perda de produtividade.
“Tendo passado por várias organizações de diferentes segmentos, entendo que nesse cenário as organizações têm grande responsabilidade de criar ferramentas e processos que não só tratem a doença, mas que a previnam, viabilizando uma cultura de cuidado, respeito, equilíbrio, abertura para se discutir o tema, além de preparar seus líderes para lidar com essa situação como indivíduos e como gestores”, afirma Karen.
Além disso, ela continua, a disseminação de informações precisas e confiáveis também é papel fundamental, assim como iniciativas de promoção da segurança psicológica, criando dentro da organização um ambiente seguro para os funcionários.
Como avaliar o cenário dentro das empresas
De forma prática, Karen lista a mensuração e o tratamento de alguns indicadores internos para que as organizações possam avaliar o cenário atual e garantir evolução em suas práticas e resultados nesse sentido. Entre eles:
- taxa de melhora/piora clínica de depressão e ansiedade após intervenção médica;
- número de funcionários em tratamento por dependência química e problemas de saúde mental;
- número de internações psiquiátricas;
- número de funcionários que apresentam comportamento suicida;
- taxas de retorno ao trabalho após afastamento por CIDs relacionados ao tema;
- índices de engajamento organizacional;
- taxas de adesão a programas de saúde e bem estar;
- número de funcionários que declaram mudança no estilo de vida e cuidado com a saúde física e mental.
“Nós do RH precisamos agir conforme pregamos e sermos os primeiros a cuidar da nossa saúde física e mental e a criar espaços de segurança psicológica e de abertura para tratar esse tema”, diz Karen. “Assim, geramos maior engajamento, inspiração e confiança dos nossos times e, consequentemente impacto positivo real nas organizações.”
A UNI.CO, especializada em recrutamento, e os entrevistados para este artigo deixam aqui um convite e chamamento para sua reflexão e ação sobre a saúde emocional dos funcionários. O assunto é urgente!
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