Assumir o comando de uma empresa familiar, sendo um profissional de mercado, é uma situação que requer habilidades que vão além das “hard skills” exigidas para o cargo de CEO usualmente, como o domínio das ferramentas de gestão, conhecimento de finanças, marketing e gerenciamento de pessoas.
“O mais importante é saber como conduzir a relação com os integrantes da família”, afirma Sandro Fernandes, que desde 2018 é CEO do Grupo Iter, administrador do Parque Bondinho Pão de Açúcar, Patrimônio Cultural Mundial da Humanidade, no Rio de Janeiro, e do Parque do Caracol e Parque Estadual do Tainhas, ambos no Rio Grande do Sul. Também fazem parte do grupo a operadora turística C2Rio, o marketplace de destino Destinow, e uma plataforma de gestão de vendas multicanal direcionada ao atendimento do mercado turístico, a Destitech.
Para Luciano Sessim, primeiro CEO de mercado a assumir o comando da Loja do Mecânico, uma empresa familiar de máquinas e ferramentas, essa interlocução com a família fundadora é, sim, bastante relevante. “É preciso ter conversas muito abertas, e individuais, para que todas as percepções sobre o negócio sejam levadas em conta, e não haja um desgaste no equilíbrio das relações”, afirma.
Quando Fernandes ingressou na companhia, o quadro de executivos ainda tinha membros da família na empresa, hoje com 111 anos. Mas, pouco depois, toda a gestão foi profissionalizada, e os integrantes da família ficaram no conselho.
O CEO deve entender o funcionamento do ambiente corporativo
Fernandes diz que o desafio, como CEO, é fazer todo o time olhar para uma mesma visão e trabalhar para materializá-la, de forma alinhada aos valores da organização.
Para que esse entrosamento aconteça, o CEO comenta que é preciso saber dar tranquilidade e gerar confiança nos acionistas em relação ao trabalho do próprio executivo e da equipe de mercado que ele está trazendo.
Já para manter o alinhamento com a visão da família para o grupo, Fernandes diz que são necessárias reuniões frequentes com o conselho. “Temos que trazer profissionalismo nas decisões e também estarmos abertos a aprender, porque aquela família tem um histórico, motivos para as decisões que tomou até então”, explica. Essas razões, ele diz, nem sempre estão escritas ou são faladas, e é importante que o CEO entenda o funcionamento daquele ambiente corporativo, para tudo fluir melhor.
Fernandes pontua, ainda, que é importante não fazer nada disruptivo, mas sim evolutivo, sempre trocando com os membros da família nas reuniões de conselho de forma muito estratégica, com planejamento claro de onde a empresa quer chegar e como quer chegar. “Tudo com muita transparência”, diz.
Processos estruturados e resultados podem mostrar como chegar aos objetivos
CEO da Loja do Mecânico desde janeiro de 2023, Sessim comenta que seu trabalho, hoje, consiste principalmente em ajustar a governança corporativa de maneira clara e objetiva para todos.
Esse momento, afirma, passa primordialmente por ter um respeito genuíno pelas pessoas e pelo que foi construído até aqui. Depois, é preciso mostrar através de processos estruturados e resultados que existem formas diferentes de chegar nos objetivos.
A experiência anterior que ele teve como vice-presidente comercial e de marketing da Petz, do setor de animais de estimação, está sendo usada agora. “Na Petz, o projeto em 2015 era muito parecido com o cenário atual da Loja do Mecânico, um mercado desconcentrado e uma empresa que precisava organizar os padrões operacionais para escalar de maneira rápida e eficiente”, diz. “Esse é um desafio que gostei de participar e espero poder repetir na Loja do Mecânico.”
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