Somente 4,7% das startups no Brasil são fundadas exclusivamente por mulheres, segundo o levantamento “Female Founders Report 2021”, da Distrito, Endeavor e B2Mamy. Ana Maria Zucato, Laura Camargo e Victoria Travaglini são algumas das exceções no empreendedorismo feminino – mulheres que decidiram empreender com startups —, e aprenderam a lidar com ambientes predominantemente masculinos.
À frente da fintech Noh, Ana comenta que o setor financeiro tem esse aspecto do gênero ainda mais acentuado. “Os fornecedores com os quais eu trabalho, os investidores, os parceiros, são homens em sua maioria”, diz. “Eu quase só falo com homens. Constantemente estou cercada de pessoas com as quais não me identifico no gênero, mas aprendi a conviver com isso. Tem uma coisa estranha nos cinco primeiros minutos de uma reunião, demora um pouco mais para eu me sentir à vontade, quebrar o gelo, mas depois vai.”
Laura, que fundou outra fintech, a Inventa, diz que durante toda a sua carreira sempre trabalhou em ambientes predominantemente masculinos. “Comecei no mercado financeiro, passando por casas de private equity e depois me apaixonei pelo mundo das startups”, relata. “Por diversas vezes eu fui a única mulher na sala, e posso dizer seguramente que nem sempre é fácil — muito pelo contrário.”
Com Victoria, sócia da UNI.CO Recruitment Company, aconteceu algo semelhante: “Quando iniciei minha carreira em empresas de tecnologia, lá em 2013, ainda via poucas mulheres em posições estratégicas e mais de 90% dos stakeholders que lidava diariamente eram homens”, lembra.
Laura diz que existe um certo viés, normalmente inconsciente, de que as mulheres tendem a se impor menos – “eu acabei nunca seguindo essa teórica ‘regra’ e sempre me posicionei com as minhas opiniões, levando argumentos e fatos que as suportassem”. “Por um lado, tenho bastante satisfação de dizer que sempre lutei pelo que acreditava, mas por outro digo que isso nem sempre foi enxergado com bons olhos e durante muitas situações já fui taxada de ‘agressiva’, mesmo que meu comportamento fosse de assertividade e posicionamento.”
Barreiras para o empreendedorismo feminino
Além de ter que lidar com ambientes onde os homens predominam, as mulheres enfrentam outra barreira ao empreender uma startup: a falta de referências. “Quase não há mulheres nesse papel de fundadora de startup, e isso acaba sendo uma barreira”, diz Ana. “Falta referência, e isso que sou uma mulher branca e privilegiada, eu já parto de um lugar muito à frente do que a maior parte das mulheres, então é preciso pontuar que ainda é mais fácil para mim do que para uma mulher preta”, compara.
É difícil dimensionar como a falta de um “role model” pode ser impactante, ressalta Laura, “porque no final do dia às vezes parece quase que não é possível chegar a posições mais altas”. Ela diz que, quem deseja fazer parte do empreendedorismo feminino, precisa encarar o fato de que hoje ainda é muito mais difícil para uma mulher do que para um homem. “Mas a boa notícia é que depende de nós para querer mudar isso.”
Ana acredita que o risco inerente à empreender também afeta o empreendedorismo feminino, que, de forma geral, arriscam menos (em diferentes áreas da vida). A dica da fundadora da Noh é pensar na sua jornada empreendedora como um emprego. “Penso, todo dia, ‘é só um emprego’”, diz. “Para me acalmar.”
Ana fala da importância de quebrar o “problemão” que parece ser empreender em “pequenos problemas”, e explica: “primeiro é pensar ‘no que você quer empreender’, depois ‘onde eu vou buscar investimento’, e assim por diante.”
O tema de autoconfiança, de medo de não conseguir e de atualmente ter que se esforçar muito mais do que homens na mesma posição, pode ser uma barreira também, alerta Laura. “Precisamos acreditar que isso é possível, aprender a acreditar no nosso potencial e seguir em frente, mesmo com medo.”
Por onde começar a empreender
Laura e Ana compartilham um conselho para mulheres que desejam abrir uma startup: busque outras mulheres para ajudar você nessa empreitada. “Fale com quem já passou por isso”, recomenda Ana. “Cada vez mais me convenço de que precisamos nos unir, criar aliadas, compartilhar desafios e conquistas”, afirma Laura. “Quanto mais mulheres tivermos nessa sintonia, mais fácil esta jornada será e acredito muito que juntas somos mais fortes.”
Victoria observa que com o passar dos anos, desde que ela iniciou sua carreira, viu um forte incentivo para que mais mulheres tenham oportunidades em posições de liderança. A construção de times diversos também entrou na pauta. Mas, ainda hoje, diz ela, ser mulher em um cargo de liderança ou em ambientes majoritariamente masculino não é tarefa fácil. “Sinto que é muito desafiador ser mulher à frente das negociações e passar confiança em discussões mais técnicas”, exemplifica. “Em minha experiência profissional, já precisei demonstrar firmeza para fazer outra pessoa entender que não era necessário buscar um homem posicionado hierarquicamente acima de mim e que poderia falar diretamente comigo.”
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