Hoje escrevo com um gostinho de melancolia. O ano se encerra e vidas também se encerram. Acordei com duras notícias de duas pessoas que deixaram este plano de vida, uma pessoa parte do meu ciclo pessoal e outra parte do meu ciclo profissional. No final do dia, não importa se o vínculo é pessoal ou profissional, despedir-se de uma vida sempre deixa marcas em nós. Me vejo, então, reflexiva sobre a ironia de encerrar ciclos, como o encerramento de um ano, de uma etapa, de uma vida.
O que é o final de ano senão o encerrar de uma etapa de nossas vidas?
O encerrar de um tempo construído pelos seres humanos e que introjetamos como um tempo da vida. Mas essa introjeção é apenas ilusão. O tempo da vida é próprio, indomável, incontrolável. O tempo da vida tem ritmo próprio, um sopro que flui sem que possamos alcançá-lo. Só nos resta entregar, soltar, aceitar e, se possível, aproveitar.
O tempo é mesmo uma incógnita, e a vida, um grande enigma.
Acordamos, nos aprontamos, trabalhamos, nos alimentamos, nos movimentamos, descansamos. E, então, recomeçamos. Todo dia, sem nos dar conta, abrimos os olhos e renascemos. É mesmo um milagre a vida. Abrimos os olhos e lá está ela, pronta para ser usada e desfrutada. Até que ela não mais estará. A gente pensa pouco sobre o dia em que a vida não mais estará à nossa disposição. Encerramos velhos ciclos na iludida certeza de que poderemos desfrutar de novos. É natural do ser humano temer aquilo que ele não controla, e a vida e a morte são nossos maiores descontroles.
Partimos da lógica de uma constitucionalidade invisível que nos é garantida: a vida estará lá disponível para nós, a cada encerrar e abrir de olhos. Doce ilusão. Me pergunto se viveríamos de forma mais inteira se abraçássemos a realidade de que a todo instante a vida se encerra, mas também renasce. A cada suspiro eu me despeço, mas também dou as boas-vindas.
De que forma eu viveria meu dia se estivesse mais consciente da morte e da vida, dos encerramentos e renascimentos? De que forma eu encararia meu trabalho? De que forma eu me dedicaria às minhas relações? De que forma eu enfrentaria os obstáculos? De que forma eu aproveitaria o que me é dado?
Encerro e renasço, a todo instante.
Deixo encerrar os ciclos que não me servem, as relações tóxicas, os trabalhos inúteis, os rancores guardados, os excessos carregados, os padrões antiquados… E deixo renascer o que me alimenta a vida, os amores, os propósitos, as conquistas, os trabalhos realizadores, as relações nutritivas. Se encerram coisas, acontecimentos, ciclos, velhos tempos. Renascem oportunidades, possibilidades, novos tempos.
Mas hoje, mais que encerrar ciclos, se encerram vidas, filhos, amigos, profissionais, pessoas. E ficam as marcas, os legados, as histórias, as memórias. Fica a dor, a saudade e também a gratidão. A honra de termos vivido ao lado dessas pessoas, de termos sido parte da vida delas e elas terem sido parte da nossa vida. Que honra é conhecer uma vida. Que honra é ter uma vida, abrir os olhos e ter diante de mim a oportunidade renovada de fazer diferente, de fazer melhor. De viver, de aproveitar. Me despeço com dor, me abro com esperança. Espero poder honrar o que passou e renovar os caminhos por vir.
2022 se encerra. 2023 renasce. Como eu quero aproveitar os instantes de vida (meus e de outros) que me forem presenteados?
Gracias,
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