sobre furar nossas bolhas.

Recentemente, eu buscava um vídeo que pudesse traduzir de forma filosófica e inspiradora mensagens sobre coletividade e sobre trabalharmos em comunhão uns com os outros, e então tropecei em um vídeo do Roger Oliveira. Um vídeo simples e tocante. Ele falava sobre furar a bolha e encarar nossa própria incapacidade de se relacionar com o diferente e da necessidade de aprendermos a viver nossa interdependência social de forma saudável e co-construtiva.

https://www.youtube.com/watch?v=yf6qnTTy750&t=10s

Roger traz na sua fala algumas provocações que eu peço licença poética para compartilhar aqui com vocês. Ele começa perguntando  “O que fazer com o diferente? Eu elimino? Eu ignoro? Eu acolho?” e, a partir daí ele discorre sobre como “Todo mundo é legal enquanto não contradiz você. Todo mundo é amável de longe. Mas e quando as pessoas entram em conflito com nossos interesses?”, nesse ponto ele coloca luz em nossa dificuldade de integrar o diferente como parte agregadora do processo, e expõe a dura realidade de que, no fundo, estamos mesmo é buscando concordância na relação com o outro. Queremos conviver com o diferente, acreditamos aprender com o diferente, dizemos valorizar o diferente,  mas quando o diferente está em desacordo com os caminhos que quero seguir, a verdade é que entramos em guerra, silenciosa ou explícita, com esse diferente.   

“Uma guerra é um choque de bolhas, é a vitória da intransigência, o triunfo da incomunicabilidade.” Roger Oliveira

Furar a bolha no mundo organizacional

Roger nos convidar a refletir o quanto vivemos em uma sociedade que não aprendeu a dialogar, ele nos conta que “Conversar é ficar às voltas com os outros” portanto a conversa saudável e co-construtiva só acontece quando eu sou capaz de baixar as guardas das minhas necessidades egocêntricas e intransigentes e estar verdadeiramente co-vivendo com o outro, compreendendo que “Autonomia não é autossuficiência”, autonomia não é ter liberdade para fazer o que quiser, do jeito que quiser, sem precisar de ninguém. Autonomia é decidir o que fazer dentro da nossa condição humana de interdependência. Autonomia passa por agir consciente de que “Nós precisamos uns dos outros.” e é nessa humilde aceitação que podemos finalmente nos abrir a co-criar com o outro, alavancados pelas nossas diferenças, e não limitados por elas.

Quando penso em um paralelo de todos estes conceitos com o mundo organizacional, facilmente me vem à mente tantas histórias de intransigência e incomunicabilidade. Líderes que ordenam para não serem questionados. Pares que escalam os problemas para não terem que dialogar. Liderados que se silenciam para não terem que se indispor. Nos fechamos no nosso mundo, não pedimos feedback, não nos abrimos a escutar a opinião alheia, não damos espaço para sermos contrariados… e, no final, reclamamos de falta de colaboração do time, de falta de senso de dono, de falta de speak up, de falta de receber feedback, de falta de saber o que esperam de mim, de falta de ter suporte, de falta de mudanças reais.

Mas será que a gente realmente quer? Realmente queremos que os outros questionem o que eu estou fazendo? Realmente queremos nos abrir a estarmos errados? Realmente queremos descobrir novas formas de fazer as coisas? Realmente queremos lidar com diferentes perspectivas? 

Será que, para além dos discursos politicamente corretos, realmente queremos furar a bolha?

Construir coletivamente X construir egocentricamente

Parece tão mais fácil construir coletivamente com aqueles que estão em concordância, com aqueles que não nos contradizem ou simplesmente construir sozinhos. Talvez seja mesmo mais fácil, mais simples, menos exaustivo e, definitivamente, menos desafiador. Se é isso que você quer — caminhos “curtos”, fáceis e pouco desafiadores — te aconselho a seguir bem protegido na sua bolha.

Mas se uma parte sua consegue imaginar o quão mais maravilhoso seria construir coletivamente com aqueles que nos mostram infinitas novas possibilidades, com aqueles que não nos deixam cair na normose e nos propõem a ir além das nossas limitações… então eu te aconselho a furar a bolha bem fundo.

A verdade é que dentro da segurança da nossa bolha não construímos coletivamente, construímos egocentricamente. Dentro da nossa bolha, achamos que o outro é o problema e reclamamos de não receber ajuda e feedbacks. Fora da nossa bolha entendemos que somos parte do problema e passamos a levantar as mãos para pedir ajuda e para pedir e receber feedbacks. Dentro da bolha, temos uma falsa sensação de segurança. Fora da bolha, temos uma real sensação de expansão. 

Já pensou em furar a bolha hoje?

Gracias,

assinatura Maju Menezes

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