Lideranças negras ainda são poucas nas organizações

Pessoas negras são a exceção quando o recorte são as lideranças empresariais. Um estudo do IBGE feito em 2019 e publicado pelo “Valor Econômico” mostra que somente cerca de 30% dos cargos gerenciais no país são ocupados por pessoas negras. Em 2020, mostra a reportagem, um levantamento do Vagas.com com 238.636 candidatos, sendo 125.745 negros, indicou que esse perfil representava 8,9% do total de cargos de nível pleno e 0,7% das posições de diretoria. 

Por isso, a palavra-chave quando se fala em lideranças negras é representatividade, na opinião de Priscila Souza, global HRBP manager para a área de engenharia do Nubank. “É uma palavra que a gente usa muito e nunca fica velha”, diz. “Quando a gente chega a um cargo gerencial mostra para outras pessoas que é algo possível, que elas também podem chegar e ocupar esses lugares.”

Darla Sierra, co-CEO e partner da VLGI Investimentos, concorda. “Ser quem eu sou, ocupar os lugares que ocupo, e dar luz a um tema tão importante, essa é a melhor bandeira que eu posso levantar”, diz. “É o valor da representatividade. Uma outra pessoa olha, se reconhece, e vê que é possível. Se ver possível é muito importante.”

 

Diversidade e inclusão: ações necessárias

De qualquer forma, Darla comenta que é importante falar sobre a presença das pessoas negras nas organizações ao longo de todo ano, sempre, porque trata-se de uma mudança gradual. “A mudança não é algo automático”, afirma. “Estamos em um processo evolutivo, que precisa caminhar mais rápido. Se continuar como está, o ritmo de reparação será muito lento.”

Priscila acredita que quando há lideranças negras na organização, o avanço é mais acelerado. “Tem o lugar da tomada de decisão, de você ser a pessoa que toma a decisão”, explica. “Quando estamos em uma empresa só com lideranças brancas, há uma pauta sobre raça. Quando há negros, é você defendendo a mudança, para ser algo natural. Isso faz muita diferença.”

Existem barreiras, ela diz, porque o Brasil tem um racismo estrutural e os brasileiros foram criados nessa estrutura. Diante disso, Priscila fala da importância de letrar intencionalmente as pessoas, que acabam replicando práticas racistas mesmo sem perceber. “Falta as pessoas conhecerem de fato a história do Brasil. Olhar para essa história e ver que tem mais tempo de Brasil escravizado do que de Brasil liberto, e como isso impacta as pessoas pretas”, explica. 

Existe, por exemplo, uma dificuldade grande de muitas pessoas brancas que não são letradas de entender que a meritocracia pode não se aplicar nesse contexto em que o Brasil escravizou por anos a população negra. “Meritocracia não existe quando eu parto de um ponto tão diferente”, afirma. “Quando as pessoas entendem isso, acontecem as políticas diferenciadas de recrutamento, por exemplo.”

Nascida no Ceará, Priscila comenta que o preconceito em relação aos nordestinos foi outra barreira enfrentada por ela. “As pessoas quererem explicar coisas básicas, partindo do pressuposto que eu não sabia por ser nordestina”, exemplifica. “Foi algo muito forte em um momento da minha carreira.”

Priscila comenta, ainda, sobre a importância de as áreas de diversidade e inclusão das empresas olharem especificamente para as mulheres pretas. A pauta de gênero já avançou nas organizações, mas ainda muito voltada para pessoas brancas. “As mulheres pretas estavam cuidando dos filhos das mulheres brancas enquanto elas estavam conquistando esses espaços nas organizações. Então, as mulheres pretas estão na base da pirâmide. Às vezes a mulher preta nem está na organização corporativa”, afirma. “São necessárias ações nesse sentido, desassociando da pauta de gênero.”

A executiva finaliza reforçando a importância da intencionalidade dentro das organizações. “Se não fizermos nada, apenas estaremos replicando a estrutura existente, e a gente sabe a quem essa estrutura atende.” 

Além do olhar atento das organizações para a agenda da diversidade e inclusão, Darla pontua sobre a necessidade de as pessoas se posicionarem também frente aos obstáculos. Ela, mulher negra, vinda de escola pública e da periferia, diz que nunca “pediu muita licença” para estar onde queria estar. “Eu sabia onde eu queria chegar, e se alguém olhasse torto, era problema da pessoa”, conta. “Se eu fosse esperar licença para passar talvez eu nunca passasse.”

Este mês, aliás, Darla está lançando um livro que traz um pouco desse olhar. “Geração de Fazedoras – Atitudes que transformam você, sua carreira e seu bolso” foi escrito por ela e Carol Campos, e publicado pela Alta Books. 

A UNI.CO entende a importância da diversidade nos times das empresas. Conte com a gente para os seus processos de seleção de executivos!


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