O Brasil tem 56.4% da sua população formada por pessoas pretas. Você vê essa mesma proporção de representatividade dentro do mundo corporativo, principalmente ocupando cargos de liderança? Na publicidade, na música e na política? Dentro das universidades ou através dos influenciadores digitais? Sei que, infelizmente, não! Para entender a origem dessa desigualdade de representatividade e supremacia branca em alguns (muitos) espaços, precisamos conhecer a história real dos povos africanos e não tem período mais oportuno pra isso do que Novembro, Mês da Consciência Negra, mês para refletirmos e aprendermos mais sobre a origem do racismo estrutural.
Há uma infinidade de canais de informação para nos apoiar no letramento racial crítico, temos que parar de esperar que as pessoas pretas estejam a todo o momento nos educando ou corrigindo, é de nossa total responsabilidade conhecer a história e a cultura africana para então compreendermos verdadeiramente a história e a cultura brasileira. O racismo é um legado histórico e um problema atual que se reproduz diariamente e precisamos ser, além de vigilantes, antirracistas com nossas próprias ações e com as ações de todas as pessoas do nosso convívio.
Mês da Consciência Negra: momento para refletir e aprender
Temos uma dívida histórica com o povo que foi escravizado por mais de 300 anos no nosso país, de forma extremamente cruel e desumana, e que após a abolição (que ocorreu há apenas 133 anos) foi abandonado à própria sorte, sem oportunidades, sem renda, sem educação e sem nenhuma política que os integrasse socialmente. E apesar de já ser mais do que ultrapassado normalizar o racismo, crime inafiançável e imprescritível no Brasil desde 1988, diariamente continuamos nos deparamos com essas situações, desde as mais violentas às microagressões veladas. Precisamos continuamente de senso crítico e de atitudes antirracistas e isso só vem através da desconstrução de vários estereótipos, de contato com conteúdos que nos eduquem e nos provoquem, de coração aberto e de cabeça disposta a evoluir.
Eu, pessoa branca, reconheço que não tenho lugar de representatividade e fala nessa pauta, mas buscando constantemente evoluir através do conhecimento e da busca por pessoas que furem a minha bolha, decidi contribuir neste texto com algumas informações e nomes importantes para que todos possamos coletivamente, através do conhecimento e da consciência sobre nossos privilégios, avançar nessa jornada e alcançar um mundo com distribuição mais igualitária de oportunidades.
Como sociedade, precisamos cada vez mais de ações e políticas públicas propositivas: na década de 90, pessoas pretas não ocupavam nem 2% da população universitária mas, graças às cotas raciais, esse percentual saltou para 38% em 2019. É através de políticas públicas como essa que conseguiremos diminuir cada vez mais a lacuna de acesso à educação – e às oportunidades – entre pretos e brancos. Precisamos também fomentar e apoiar organizações que são agentes de desenvolvimento do ecossistema afroempreendedor, alguns desses exemplos são:
- Movimento Black Money;
- EmpregueAfro;
- BlackRocks Startups;
- Indique Uma Preta;
- Pretahub;
- ID_BR – Instituto Identidades do Brasil.
Mês da Consciência Negra também no ambiente corporativo
Além disso, precisamos provocar o ambiente corporativo: busque entender que compromissos sua empresa já assumiu com essa pauta, quais ações de sensibilização e letramento estão sendo promovidas, quais políticas e metas de curto, médio e longo prazo já foram ou estão sendo implementadas, como os indicadores estão sendo mensurados e como estão evoluindo. Programas como Trainees exclusivos para Pessoas Pretas realizados pelo Magalu, Bayer e Carrefour também são ações afirmativas (e inspiradoras) que aceleram a jornada de equidade no mundo corporativo.
Uma pesquisa da McKinsey apontou que empresas com diversidade étnica e racial têm 35% mais chances de ter rendimentos acima da média do seu setor, no entanto, alguns números ainda são alarmantes e revelam as seculares camadas de privilégio das pessoas brancas: de acordo com dados do IBGE, em 2020 a taxa de desemprego da população preta foi 49.6% maior que a da população branca (17.2% X 11.5%).
Conteúdos e produtos de empreendedores pretos
Fure a sua bolha e, além de buscar conhecer a história, consuma conteúdos e produtos de empreendedores pretos. Abaixo algumas sugestões que podem te aproximar desse universo:
Museu Afro Brasil: o acervo abrange diversos aspectos dos universos culturais africanos e afro-brasileiros ao registrar a trajetória histórica e as influências africanas na construção da sociedade brasileira, abordando temas como religião, trabalho, arte e escravidão.
Filmes: Infiltrado na Klan; Greenbook; Histórias Cruzadas; A 13ª emenda; Corra; Branco Sai, Preto Fica; M8 – Quando a morte socorre a vida; Malcolm X; Se a rua Beale falasse; Selma, uma luta pela igualdade.
Documentários: Emicida: Amarelo – É tudo pra ontem; Menino 23; Homecoming.
Séries: Olhos que condenam; Cara gente branca; Queen Sono; Madam C. J. Walker; Atlanta.
Livros: Na minha pele; A África explicada para meus filhos; Eu, empregada doméstica; Necropolítica; Lugar de Fala; Pequeno Manual Antirracista; Mulheres, raça e classe; Os viajantes.
Escritores: Djamila Ribeiro; Angela Davis; Chimamanda Ngozi Adichie; Alice Walker; Lázaro Ramos; Audre Lorde; Conceição Evaristo; Regina Porter.
Criadores de conteúdo digital: Ana Paula Xongani; Edu Lyra; Nina Silva; Luana Génot; Verônica Oliveira; Nataly Neri; Taís Araújo; Maíra Azevedo; AD Júnior; Gabi Oliveira; Spartakus Santiago; Matheus Pasquareli; Gleidistone Silva; Lisiane Lemos; Rachel O. Maia; Silvia Nascimento; Patrícia Santos; Adriana Barbosa; Fabrício B. de Oliveira.
Podcasts: Negra Voz Podcast; AfroPai; Infiltrados no Cast; Meteora; Casa Preta; AfroPausa; Kilombolas Podcast; Lado Black; Negro da semana.
Cantores: Emicida; Elza Soare; Mano Brown; James Bantu; Gilberto Gil; Luedji Luna; Nara Couto; Seu Jorge; Djonga e uma Playlist do Spotify só de artistas pretos 🖤.
Conclusão
Não desperdice a chance de se tornar uma pessoa melhor depois desse Novembro, Mês da Consciência Negra. Escolha dar um passo nessa direção e busque continuamente se reeducar através de uma perspectiva antirracista!
– Jaqueline Mandelli
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