Como Ego e Alma influenciam as mudanças profissionais ao longo das nossas carreiras? Esse texto é um convite à reflexão; fazemos os questionamentos certos para chegar às melhores escolhas profissionais para nós mesmos?
Conversava com uma grande amiga sobre os dilemas de Ego e Alma nas decisões de carreira que nos levam a mudanças profissionais. Uma conversa que convida a mover águas profundas dentro de nós. Tão profundas que decidi compartilhar parte desta conversa com vocês. Não espere um texto prático nem conclusivo, eu já não tenho o tino para palavras sólidas, o meu negócio é navegar no que é líquido, este texto mais ainda. Portanto, um conselho: siga lendo se gostar de elucubração, pura e simplesmente.. =)
Para não ficar etéreo demais, vou começar, então, “traduzindo” o que chamo de Ego e Alma.
- Ego: aqui entendemos como todo e qualquer aprendizado que absorvemos ao longo da vida e que serve para nos proteger e nos ajudar a sobreviver e a ter êxito. “Ego” também vamos associar, aqui, a Ágape, descrito na Grécia Antiga como a energia que move os relacionamentos baseados em proteção mútua.
- Alma: aqui entendemos como nosso ímpeto interno que nos traz a sensação de inspiração, entusiasmo e vitalidade. “Alma” também vamos associar, aqui, a Eros, descrito na Grécia Antiga como a energia que move os relacionamentos baseados em paixão. Veja bem, paixão aqui não tem a conotação sexual que vemos muitas vezes sendo distorcida na nossa sociedade “moderna”, mas sim como libido e prazer com a vida, essa energia vital que nasce das entranhas.
Tradução feita, vou focar aqui nas escolhas profissionais que afetam nossa carreira profissional, sejam elas sobre uma mudança de profissão, de rumo, de empresa, de função, de área ou de promoção (sim, deveríamos escolher aceitar ou não promoções, quem disse que ser promovido é sempre o melhor caminho?).
Mudanças profissionais durante a carreira
Quantas vezes me deparei diante do questionamento “devo fazer um movimento na minha carreira ou devo continuar onde estou?”. Quantas vezes este questionamento veio carregado da ideia de “devo ou não devo, certo ou errado” e não de “quero ou não quero, melhor ou pior”.
Meu Ego acredita que existe um jeito certo de se fazer carreira, não há como ser diferente, sua função máxima é me proteger, me ajudar a sobreviver e a ter êxito, claro que ele vai me impulsionar a caminhos mais seguros, mais conhecidos ou mais calculados. Por outro lado, cada ano que passa, uma voz de fundo começa a ganhar força, uma voz que não fala com palavras, e sim com sensações. Sensação de que o que me faz sentir viva às vezes é o que é errado pro meu Ego. Sensação que chama por algo, que inquieta, que se infiltra, que tira meu sono, que me faz acreditar que estou perdendo o eixo (vulgo, controle), quando na verdade ela convida ao eixo. Ao eixo de algo que me alimenta a Alma, algo que remexe o estômago e desperta minhas entranhas.
Ego ou Alma? Ágape ou Eros? Segurança ou Vitalidade?
Não acreditem por um segundo sequer que lhes direi para abraçar completamente os ímpetos de alma e se jogar no desconhecido abismo libidinoso que este caminho nos convida a viver. Os gregos já sabiam, e gosto de sabedoria antiga: uma relação não se sustenta em um só pilar, nem só de segurança nem só de prazer, nem só de Ágape nem só de Eros, nem só de Ego nem só de Alma.
Eu posso atender a minha necessidade de sobrevivência, ao passo em que abro espaço para o meu ímpeto de vitalidade. Dar voz a essa profundeza que sussurra (e, às vezes, grita), não significa ser invadida por ela e fazer escolhas profissionais precipitadas, impulsivas, irresponsáveis e hedônicas. Dar voz significa apenas poder ouvir, conhecer, se tornar consciente. Parar, prestar atenção, ajustar o ruído e dar-lhe nitidez. O que ele me diz?
Quanta vitalidade me falta no meu caminho profissional, neste momento?
Não é apenas o que fazemos que precisa de mudança, a nossa forma de fazer está morrendo. Não sustento mais este fazer movido por medos e dúvidas e descrenças. Este fazer desenfreado e inconsciente. Não sustento mais a busca por me anestesiar para continuar correndo. E anestesiando. E correndo. Para não chegar a sair do mesmo lugar: desconexão, cansaço, incômodo, insatisfação, desmotivação, desengajamento, desvitalidade.
São pequenas mortes que vamos nutrindo dia a dia. Esta voz que chama para olhar para tua Alma, teu Eros, tua libido de vida, chama para olhar para estas pequenas mortes. Isso não significa largar tudo e fazer um sabático, significa encarar a pergunta “onde reside excesso de proteção e carência de vitalidade no que faço e no como faço, dentro do meu atual caminho profissional?”. Posso descobrir que é no detalhe que preciso de mudanças e transições, ou talvez seja na coisa inteira, a saber!
Ps.: o sabático não vai te salvar, aliás, a mesma que se anestesiou no trabalho é a que você leva contigo pro sabático, sou o que sou não importa onde estou, alguns lugares apenas me provém uma maquiagem melhor que outros. PS.2: eu já fiz 2 sabáticos e acho maravilhoso, só não vai te salvar, mas isso é assunto de outro texto.
Mais do que mudanças profissionais, um convite para ser consciente
¡Ánimo! Não estou te convidando a pedir demissão. Estou te convidando a ter coragem de ser consciente do descompasso entre Ego e Alma, Ágape e Eros, Segurança e Vitalidade, que existe hoje no teu caminho profissional. Ser consciente não significa fazer algo sobre isso. Você só fará algo se quiser. Mas posso dizer? Mesmo que você não faça nada, o estar consciente já vai mudar a sua relação com o que é que você descubra. E talvez você já ganhe uns quilinhos de bem estar só por isso: aumentar o som da tua Alma, ouvir, observar, ver e escolher gerar mudança ou não.
Seja o que for, saia da anestesia.
Gracias,
Siga a UNI.CO no Linkedin para acompanhar os novos artigos da Maju, sempre trazendo discussões importantes para a área do Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO).