A participação de mulheres no mercado financeiro está em uma crescente, mas ainda é um desafio. “Não é uma equação simples”, comenta Darla Sierra, co-CEO na VLGI Investimentos. “A mulher precisa se enxergar possível nesse mercado, que sempre foi um ambiente majoritariamente masculino.”
Por ser um mercado que sempre pareceu árido para as mulheres, e com poucos modelos para se inspirar em cargos de liderança, poucas profissionais se enxergavam ocupando esse lugar. “Quando a profissão historicamente tem mais representantes de um gênero ou outro gera uma inibição”, diz Darla. “Quando uma jovem profissional vê mais mulheres atuando, ela se enxerga possível ali.”
Darla, vê, no entanto, que isso está mudando aos poucos, com aumento de mulheres no mercado financeiro. Consequência, principalmente, de uma mudança comportamental, mas também de políticas que incentivem a participação feminina no segmento.
A VLGI Investimentos, que ela comanda, ao lado de Hugo Villas, CEO da empresa, por exemplo, tem o objetivo de ter 50% de mulheres no time. Hoje está perto de 40%. “É preciso incentivar esse aumento.”
A liderança feminina faz toda a diferença
Darla lembra que, de forma geral, empresas com liderança feminina promovem esse diálogo da equidade de gênero de forma mais aberta. Mas ressalta que uma companhia não necessariamente será machista apenas por estar em um ambiente masculino ou ter a liderança majoritariamente formada por homens. “Eu sempre tive espaço para desenvolvimento na VLGI, tenho sócios que respeitam o meu espaço e a minha voz”, conta.
Ela entrou na companhia em 2017, após carreira de 11 anos em bancos como Itaú e HSBC. Foi galgando posições até ser convidada para atuar como co-CEO em setembro deste ano estando em licença-maternidade – o que demonstra como a empresa consegue estabelecer suas promoções por mérito, independentemente do gênero do profissional.
A dica de Darla para as jovens que querem ingressar no mercado financeiro é se qualificar. “Tome suas decisões sabendo seus próximos projetos de carreira”, diz. “Esteja preparada para as oportunidades, seja intencional na sua escolha de carreira e tenha flexibilidade para pivotar se for necessário.”
Mercado financeiro X realização profissional
Fátima Rios Pereira, Chief Venture Officer na CERC, acredita que as mulheres terão mais interesse em atuar no mercado financeiro à medida que fique mais evidente para elas que tal ambiente é propício para sua realização profissional. Ela cita alguns elementos que acredita serem chave para atrair essas mulheres para o setor:
- Existirem bons e não raros exemplos de mulheres bem sucedidas e em cargos de liderança e C-level. Não basta ter uma mulher que se destaque, há que se ter grupos delas para que isso seja visto como uma possibilidade real;
- Consciência de que características femininas como sensibilidade, jogo de cintura e empatia não só não atrapalham, mas criam diferenciação;
- Cultura organizacional que gere empatia e normalização de algumas fases da vida da mulher (como de fato é), como a gravidez e maternidade, para que, para aquelas que fazem essa escolha, tenham igualdade de oportunidades a médio e longo prazo;
- Exercício de valorização de resultados, acima de qualquer característica individual.
Assim como Darla, Fátima percebe que a mudança está acontecendo, mas pontua que “infelizmente, ainda estamos longe de poder dizer que há igualdade de gênero no setor, mas já temos fortes indícios de que estamos no caminho correto”.
Esses indícios incluem a ocupação efetiva de mulheres em cargos de liderança no setor, grandes empresas estruturando processos de inclusão e oportunidades para mulheres e algumas organizações procurando especificamente mulheres para cargos C-level, para gerar diversidade de pensamentos e valorizando características específicas femininas.
Diversidade
Fátima cita que, aqui no Brasil, empresas têm anunciado metas de diversidade: a XP, por exemplo, anunciou que quer 50% de mulheres na empresa até 2025. Outro exemplo interessante foi a Suzano emitindo o primeiro título de dívida (bonds) com meta de inclusão e diversidade e o surgimento de fundos que só investem em empresas com liderança feminina.
“Assim como em outras mudanças estruturais na sociedade, a participação da mulher em igualdade de condições no mercado de trabalho como um todo está acontecendo aos poucos, mas tem sido acelerada pelo debate e reconhecimento da importância do tema.”
Fátima conta que, ao longo de sua trajetória de carreira, teve sorte de encontrar lugares e pessoas que não só a incentivaram, mas deram oportunidades reais baseadas em entrega de resultados. “Mas, com certeza, já enfrentei inúmeras situações desagradáveis geradas pelo preconceito da mulher ocupando cargos historicamente mais masculinos”, diz.
Mudança no mercado financeiro desde os processos seletivos
Victoria Travaglini, da consultoria de recrutamento UNI.CO, comenta que as empresas que estão efetivamente comprometidas com a causa da equidade de gênero, independente da divulgação que faz disso, já começam a colher bons frutos do trabalho bem feito.
“A contratação intencional de minorias é uma ação que muitas empresas do segmento vêm adotando para acelerar a diversidade de times e muitas até assumiram um compromisso público para mudar esse cenário”, diz. “Algumas empresas estão seguindo a linha do processo seletivo feito ‘às cegas’, quando não aparecem informações que poderiam enviesar já no início a decisão, como nome do candidato, gênero, idade, etnia e faculdade. Esses dados só são revelados no momento da entrevista por exemplo.
Outra mudança nos processos seletivos que presenciamos hoje é a publicação de oportunidades direcionadas exclusivamente para diversidade de gênero, exclusiva para mulheres. Vale adicionar que muitas empresas incluíram na agenda treinamentos de diversidade e de vieses comportamentais aos líderes e isso impacta positivamente quando esses gestores recrutam.”
A headhunter diz que o mercado financeiro é instigante e desafiador, e as mulheres que começam a trabalhar com isso gostam e querem continuar. “Quando a mulher consegue se colocar, sempre terá respeito e reconhecimento.”
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