Alguns dias atrás, ainda como parte dos eventos destinados ao mês da mulher, fui convidada a participar de um painel onde se discutiria o papel dos homens como importantes aliados nas estratégias de equidade de gênero daquela empresa. O convite, diferente dos outros eventos que tinham sido promovidos naquele mês, foi intencionalmente estendido aos homens e a participação deles foi muito estimulada, representando quase metade dos participantes. Aquilo, sem dúvidas, evidenciou o sucesso do evento!
Eu acho fantástico quando temos a possibilidade de ter um espaço de fala para sensibilizar e provocar possíveis aliados a entenderem seu papel e se juntarem àquela luta! É fundamental que a “outra parte” esteja presente, seja convidada e incluída nessa conversa, só assim teremos a chance de mudar nossos padrões atuais na velocidade necessária.
Todos precisamos de aliados na nossa rotina, seja no trabalho ou na vida pessoal, seja para sermos bem sucedidos ou para não ficarmos sobrecarregados, mas, pessoas que fazem parte de grupos sub-representados, precisam ainda mais, muito mais!
Mas ser um aliado, sob a ótica de diversidade, não significa apenas não ser preconceituoso (racista, machista, lgbtfóbico, xenofóbico, capacitista, etarista, etc) e sim se posicionar intencionalmente, usando seu próprio privilégio em prol do outro, desde situações extremamente desconfortáveis até às microagressões diárias, que muitas vezes passam veladas. Ser um aliado representa ter uma mentalidade de crescimento (growth mindset), estar disposto a errar, aprender e melhorar. É preciso sair da zona de conforto (ou do medo) para transformar isso em uma ação empática e intencional.
Não existem políticas de diversidade e inclusão que possam ser bem sucedidas sem o engajamento dos aliados. Por um viés de afinidade, quando um aliado se posiciona em uma situação de preconceito, é muito mais provável que os participantes do evento estejam mais abertos a ouvi-lo e considerarem sua opinião do que ouviriam ou considerariam a fala de alguém que faz parte do grupo que sofreu o preconceito. Para exemplificar, imagine uma pessoa branca fazendo alguma “piadinha” ou comentário racista. Se uma pessoa preta estiver presente e se posicionar explicando o porquê daquela piada ser racista (e, portanto, algo que não deveria mais se repetir), a probabilidade da pessoa branca ficar na defensiva, apenas se justificando e sem praticar escuta ativa (ainda julgando aquele posicionamento como mimimi) é infinitamente maior do que se uma pessoa branca, aliada das lutas pelos direitos raciais, ao presenciar aquela situação, se posicionar. Por um viés de afinidade, a pessoa que foi preconceituosa estará muito mais aberta a refletir e escutar se essa explicação vier de uma outra pessoa branca do que de uma pessoa preta. Quantas e quantas vezes você já vivenciou uma situação parecida com essa? É triste, mas é a realidade.
Portanto, se você não sabe como pode se tornar um aliado, comece buscando informação (a internet é uma fonte inesgotável de conhecimento), leia sobre o assunto quando alguma situação de preconceito acontecer na sua vida ou no mundo (estamos globalmente diante de diversos eventos racistas e xenofóbicos), se desconstrua e reflita sobre aquela piada ou expressão que você cresceu ouvindo mas que fere alguém ou algum grupo. Não tenha medo de ser o “chato politicamente correto”, seja curioso, crítico, empático, se transforme a cada nova oportunidade, se aproxime e conviva mais com as pessoas de grupos diferentes do seu, pratique sua escuta ativa, gere reflexões internas e as externalize, exerça sua influência positiva para a mudança também acontecer com as pessoas que estão no seu entorno (amigos, familiares, colegas de trabalho…) quando eles reproduzirem comportamentos e comentários que você não concorda. Todos estamos em uma jornada de aprendizado, a mudança não ocorrerá repentinamente, mas precisa ser intencional e genuína.
Diversas empresas estão provando o valor incontestável que uma cultura de inclusão e diversidade proporciona para os seus funcionários e para o negócio e o quanto a participação dos aliados é fundamental nessa jornada. Para inspirar, deixo aqui os principais objetivos que a Microsoft determinou em seu programa (muito bem estruturado) de aliados para seus funcionários:
- Neutralizar o preconceito inconsciente, praticando a consciência deliberada;
- Diminuir a velocidade, suspender o julgamento e reservar um tempo para processar as informações;
- Exercitar a curiosidade, fazer boas perguntas e ouvir com atenção;
- Separar o comportamento da pessoa e concentrar-se no impacto da ação nos outros;
- Ver nossos próprios erros como um convite para aprender, em vez de uma ocasião para ficar na defensiva;
- Falar com nossa própria voz, não em nome de outra pessoa.
E você, para qual comentário ou atitude preconceituosa não vai virar as costas hoje? Se levantar contra o preconceito não deveria ser mais uma escolha!
– Jaqueline Mandelli