Estímulos para todos os lados, demandas, exigências, solicitações, tela de computador, cachorro latindo, barulho de obra, filho gritando, telefone tocando, slack e whatsapp pipocando, instagram bombando, vizinhos brigando, batida de carro, videoconferência iniciando, email chegando, alguém me chama, giro a cabeça, torcicolo, trombada no joelho, tropeço, desequilíbrio, o que está acontecendo?!
PARE O MUNDO QUE EU QUERO DESCER, não é mesmo?
Conheço poucos, para não dizer ninguém, que não estejam vivendo, em algum grau, uma vida de demasiados estímulos. Na verdade conheço alguns que resolveram se aventurar numa vida mais de mato, fora de circuito. Parece que está dando certo, ou pelo menos está menos pior, não sei, é um trade-off do qual não estou segura. Mas se você, como eu, quer viver na cidade, trabalhando, cuidando da casa, da família, do cachorro, tendo vida social e alguma classe de lazer… tá difícil conciliar tudo sem nos sentir esmagados pelos demasiados estímulos que recebemos.
Recebemos e provocamos. A gente acaba por perpetuar o mesmo veneno que nos faz sofrer. É que pra dar conta do que recebo, eu preciso passar adiante. Me incomoda receber emails e tantas mensagens no slack, mas, para não ficar de fora do circuito, eu vou lá e participo dessa loucura coletiva. Eu reclamo e contribuo. Peço para parar, mas não paro. Perpetuo discursos bonitos de qualidade de vida para minha equipe, mas não escuto meus próprios conselhos. Um ciclo difícil de quebrar, pois afinal, quem é o culpado? Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?
Poderíamos ficar aqui elucubrando sobre estas questões metafísicas sem nunca concluir nada. Tem um certo prazer envolvido neste processo improdutivo de ficar divagando sem rumo, está tudo girando tão no excesso que eu só quero navegar na inutilidade. Só por um instante, me deixa ser ameba. Mas esta divagação não nos levará a mudar nada, apenas nos dará aquela boa e velha “anestesia”, para depois seguir no mesmo caos institucional. Batendo continência pra loucura coletiva. Sendo personagens neste palco de demasiados estímulos.
Nossa concentração não é mais a mesma, atenção aos detalhes é coisa de artista, delegamos nossa memória para milhares de apps, produtividade se tornou sinônimo de se ocupar dando checks na maior quantidade de TO DOs, tempo pra refletir sobre o projeto e elaborar argumentos é perda de tempo, só faz, só responde, só segue o fluxo desenfreado, não pára, não pensa, não elabora. Se piscar, já perdeu o timing. Qualidade é resultados imediatos, não importa se são sustentáveis, o que importa é que precisamos pra ontem. Tem que estar pronto, tem que estar feito, resolvido. Saber o que quero e o que penso virou artigo de luxo, pra saber eu preciso me escutar e como vou escutar metida no meio de tanto barulho?! Demasiados estímulos, demasiados ruidos. Será que dá pra baixar um pouco o volume?
Será que estamos vivendo vidas e realizando trabalhos e projetos dos quais verdadeiramente nos orgulhamos? Ou só estamos seguindo em frente, fazendo o que dá e o que não dá pra não perder o trem do prometido sucesso?
Se não começarmos a questionar esta promessa de sucesso, não vai dar pra baixar o volume. Estamos acelerados demais para dar-nos conta que a máxima “feito é melhor do que perfeito” pode se tornar uma armadilha. Um vício no feito a todo custo, já nem é bem feito. Observo, pasmada, empresas e líderes numa busca desenfreada para chegar lá. Na meta dobrada do semestre, no desejado IPO, no crescimento das ações… cada um tem o seu prometido Olimpo. As empresas de venture capital investem mas cobram o couro, o CEO exige absurdos, os líderes apertam a operação até o limite, todos correm ensandecidos. Para quê mesmo?
Gracias,
