Sobre disciplina.

Há poucos meses escrevi um artigo sobre como muitas vezes usamos o campo das idéias para fugir da responsabilidade de tomar ação, e assim ficamos presos num processo de fugalização: fuga pela imaginação. Este é um tema que me interessa muitíssimo, como boa aprendiz de fazedora excessiva, a disciplina sempre foi um dos meus pontos fortes. Ser disciplinada, pra mim, era algo tão óbvio que me custava muito empatizar com a não-disciplina alheia. Por muitas vezes, fui uma gestora intolerante e dura com minhas equipes na exigência por disciplina. Por muitas vezes, fui uma amiga impaciente e antipática, por não conseguir acolher a dificuldade de ação do outro.

Talvez você pense que uma pessoa disciplinada é sempre disciplinada, ao menos eu pensava assim. E, lamentavelmente, não é assim que funciona. Todos temos gatilhos que nos levam a um lugar de desinteresse, desestímulo e, consequentemente, indisciplina. O que acontece, muitas vezes, com os disciplinados fervorosos, é que não aceitamos estes momentos e entramos numa luta interna de culpabilização e conflito com nós mesmos, a mesma dinâmica de intolerância e rigidez que projetamos no outro. Como se isso fosse resolver alguma coisa. A verdade é que só piora. Não aceitar que algo me trava a seguir em frente me impede de investigar as origens dessas travas e, em consequência, me faz perpetuar exigências absurdas, comigo e com o outro. Que, no final, só nos leva a um acúmulo de estresse despropositado.

A disciplina não é, e não deveria ser, uma ferramenta de rigidez e inflexibilidade.

Ela é sim um mecanismo para nos ajudar a seguir em frente com algo que nos propomos a fazer, mas este algo pode mudar e isso não significa se tornar indisciplinado. Eu uso a disciplina a favor dos meus caminhos, não importa quantas vezes eles mudem. Se eu associo a disciplina a “fazer sim ou sim”, me torno refém de caminhos que não me servem, mas que não me permito sair por pura teimosia.

Dar-me conta que flexibilidade e disciplina podem ser boas amigas e que, todos nós, estamos expostos a doses de indisciplina, foi essencial para me abrir a compreender mais este mecanismo. A investigar as experiências alheias, a imergir nas minhas próprias vivências e estudar os gatilhos que facilitam e/ou dificultam a tal da disciplina. Eu venho descobrindo que os gatilhos são diversos e particulares. Não existe fórmula matemática milagrosa para o tal desenvolvimento da disciplina. E boa parte desses gatilhos são frutos do funcionamento da nossa própria máquina humana, que pode jogar contra a favor..

Querer fazer algo não significa que meu corpo está programado em prol da motivação de fazê-lo. Nosso corpo tem uma marca pré-estabelecida de onde ele irá encontrar recompensa, como um caminho hormonal e sináptico (aprendido desde os primórdios da nossa biografia e genética particular) que é ativado diante da possibilidade de uma ação. Esta marca serve para avaliar se vale ou não a pena investir energia nesta ação, se é congruente com meu repertório particular a motivação para seguir em frente. Repertório este que não necessariamente nos são conscientes.

Se minha marca recompensatória não “enxerga” recompensa numa possibilidade de ação, eu posso idealmente querer fazê-la, mas esta marca acaba por jogar contra. Se minhas programações não jogarem a meu favor, eu serei sequestrado pelos meus automatismos. Isso é o que os neurocientistas chamam de sequestro da vontade: não importa o quanto eu queira fazer algo, o impulso de não fazê-lo grita mais forte. E aí eu acabo por me sabotar. Quem nunca viveu isso, não é mesmo? =)

Sabe aquele famoso experimento do marshmallow feito com crianças? É isso. Alguns de nós já carregamos em nossa programação biológica e/ou em nossos aprendizados precoces que “priorizar uma recompensa de médio-longo prazo, em detrimento de uma gratificação instantânea, vale mais a pena”. Outros de nós somos regidos pelo contrário: o imediato vale mais a pena do que o longo prazo. Se nos deixamos ser levados por estes gatilhos automáticos, nos tornamos inflexíveis e incapazes de discernir qual é o melhor caminho para cada contexto. E aí é muito custoso ter disciplina consciente.

Disciplina é entender qual recompensa vale mais a pena para cada contexto e mover meus hábitos, pensamentos, ações e entorno a favor de materializar esta intenção.

Tudo começa com um entendimento claro dos ganhos e perdas. É melhor terminar aquele projeto agora e perder o entretenimento de ficar vendo as redes sociais, mas ter o ganho de curtir livremente o fim de semana (recompensa de longo prazo)? Ou ganhar entretenimento com as redes sociais agora, mas perder tempo de desfrute do fim de semana por ter que trabalhar depois (recompensa imediata)?

Parece óbvio dizer que a recompensa de longo prazo é melhor do que a de curto prazo, mas eu não trabalho com fórmulas óbvias, portanto direi que não existe resposta certa. Para alguns, ficar livre no fim de semana pode ser melhor, para outros, ter mais entretenimento durante a semana pode ser melhor. Para cada situação, o curto ou o longo prazo vai fazer mais ou menos sentido. Muitas vezes eu prefiro dormir um pouco mais e trabalhar a noite, outras vezes vou preferir acordar super cedo para não trabalhar até mais tarde.. É uma escolha, entende? O ponto é você entender estes gatilhos recompensatórios específicos de cada contexto para poder escolher o que quer fazer, não deixando esta escolha para os automatismos do teu cérebro.

Não somos reféns da nossa programação neurológica. Mas reprogramá-la exige consciência, escolha e esforço. Esforço para criar novos hábitos, esforço para usar de técnicas de mindfulness, esforço para mudar seu ambiente e seu entorno, esforço para colocar limites, esforço para resistir ao marshmallow… Tudo isso nos ajuda a livrar dos estímulos sabotadores e nos manter focados no caminho escolhido. Mas tudo isso exige (bastante) esforço. E isso é outra coisa que nos custa muito né, afinal queremos que as nossas vontades se materializem como mágica. E isso não vai acontecer, lamentavelmente.

Make discipline your good friend.

Goethe já dizia no seu famoso poema Fausto, “(…) até que um não esteja comprometido, haverá vacilação, a possibilidade de voltar atrás e sempre ineficácia a respeito de todo ato de iniciativa e criação”. A gente vacila porque a gente não se compromete realmente com nossas escolhas. A gente sequer quer fazer escolhas, muitas vezes. E é difícil mesmo, eu sei. Mas, se é importante para você adquirir uma maior capacidade de disciplina, então a escolha consciente, o esforço e o comprometimento precisam se converter em seus melhores amigos.

Tirar a disciplina do lugar de rigidez nos ajuda a deixar de vê-la como algo que me limita a satisfazer minhas vontades e passar a vê-la como, justamente, um mecanismo para nos ajudar a satisfazer o que entendemos que faz mais sentido fazer. E, às vezes, o que faz mais sentido, num determinado momento, é ficar de boa se entretendo com as redes sociais e terminar o projeto mais tarde. Pois, se entretenha, mas também termine-o. =)

Gracias,

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