Me dei a licença poética de escrever um texto de caráter sumamente pessoal, mas que fala diretamente com experiências de todos nós. Recentemente perdi um dos grandes mestres que marcaram minha trajetória pessoal e profissional. Digo que perdi sabendo que ele brigaria comigo pelo uso desta palavra. Ele diria “a morte não é o fim de nada, é apenas mais um processo inevitável de transformação”. Mas ainda me custa sentir que na morte não se perde. Ainda me sinto atrapada na ideia da existência física. Na necessidade de tê-lo por perto como matéria. Então digo que perdi, mesmo sabendo que se transformou.
O que vem consolando meu coração é sentir que seus legados seguem vivos através de mim. Seus ensinamentos, suas palavras e sua energia são transmitidos a partir do meu viver, nos menores e maiores detalhes. Um dia desses fazia um atendimento terapêutico e disse à pessoa-cliente “olha verdadeiramente para essa parte sua que tem medo, e só pra ela”, no momento em que proferi essas palavras, me emocionei: são palavras do meu mestre que estão enraizadas em mim. É o ato terapêutico dele que se multiplica através do meu ato terapêutico. É o trabalho dele sendo transmitido através do meu trabalho.
É com um coração emocionado que decidi, este mês, homenageá-lo através desta singela escrita. Homenagear a ele e a todos os mestres que tivemos e que somos. Você já se deu conta de quantas pessoas marcaram sua trajetória, com os mais pequenos e grandiosos ensinamentos? Já se deu conta quantas pessoas você marcou a trajetória com teus ensinamentos?
A gente acredita que é necessário ser alguém muito competente ou muito bem resolvido para ser mestre de outro alguém e, na verdade. somos mestres nos detalhes. Líderes e colegas de trabalho são ótimos exemplos desse ato de maestria na prática. Convivemos diariamente com estas pessoas e trocamos experiências, aprendizados, conhecimentos e sabedorias a todo tempo. Inspiramos e somos inspirados. Seguimos o exemplo de líderes que nos impulsionaram e somos exemplos para tantos outros. Ser mestre não é sobre um estado de superioridade, é sobre esses nossos fatores únicos e singulares que, quando os expressamos, se tornam uma fonte rica de desenvolvimento para o outro.
Uma palavra de apoio nos ensina muito, uma ação correta nos inspira muito, uma expressão facial nos estimula muito, A gente nem sabe, mas impactamos e somos impactados constantemente por infinitos detalhes no convívio uns com os outros. Infinitas maestrias. Infinitas oportunidades de dar e receber nossos saberes e viveres. Infinitas formas de nos misturarmos. De nos multiplicarmos mais do que competirmos. Que lindo é pensar que uma parte minha, talvez, esteja viva através de você.
No dia em que meu mestre deixou este plano de vida material, uma pessoa que conheci casualmente em 2014 me enviou uma mensagem dizendo que meu post de gratidão ao meu mestre lhe havia inspirado a me contar que, quando nos conhecemos, uma singela ação minha de apoiá-la numa dificuldade, sem nem conhecê-la, a havia impactado tanto que, a busca por ser mais colaborativa e apoiar as pessoas, havia se tornado um lema na sua vida até hoje. Eu honrava meu mestre e ela me honrava como mestre. E eu nem sabia. Que alegria que ela me contou! Quantos mestres você pode parar um instante, hoje, para honrar? Para dizer “você fez algo que me marcou e lhe sou grato”?
Nós, humanos, somos uma espécie muito curiosa: temos a ambígua capacidade de causar grandes misérias, mas, especialmente, de causar grandes maravilhas. Parafraseando Draiton Gonzaga.
Hoje, não busco me delongar em um texto cheio de referências e conhecimentos e experiências e aprendizados. Hoje, busco apenas honrar meus infinitos e cotidianos mestres: gestor@s, pares, equipes, desconhecid@s, colegas, terapeutas, professor@s, amig@s, familiares, marido, pai, mãe, irmã. E te convidar a honrar os teus. Honrar e agradecer. Os mestres que nos foram e os mestres que somos.
Finalizo com uma singela poesia em homenagem a ele, que foi a inspiração desta reflexão:
Você me acompanhou nos meus dias mais sombrios e nos meus despertares mais bonitos.
Segurou minha mão inúmeras vezes e me apoiou a caminhar.
Me estimulou a olhar pra vida com olhos que eu nem sabia que eram possíveis.
A sua maneira única, excêntrica e singular de ser me inspirou a me jogar no meu próprio voo livre.
O seu campo de luz e amor me possibilitou abrir meu próprio campo de luz e amor para outros.
A sua sincera entrega me apoiou a me entregar.
Parte da terapeuta que hoje sou é parte do terapeuta que você foi pra mim.
Os teus legados estão vivos através de tantos de nós.
Honro e seguirei honrando.
Neste instante, de mãos dadas com a dor do luto, está a imensa gratidão que, por você, eu sinto.
Gratidão por tanto e por tantos.
Gratidão, Mestre.
Me sinto privilegiada de ter sido marcada pela sua presença nesta vida.
Te vibro e te sou lar.
A você, Moacir Amaral.
PS.: agradecimento especial, também, a outra mestre na minha vida: minha amiga Gabi, que me deu a linda ideia de usar este espaço para dar voz às emoções que sentia diante do luto deste até logo.
Gracias,
