Um dia desses conversava com uma pessoa cliente e a ouvia contar sobre sua trajetória e sobre uma sucessão de desafios e obstáculos encontrados pelo caminho. No final do relato a pessoa trazia um ar de incômodo e então lhe perguntei o que passava por sua cabeça ao reviver sua trajetória e a pessoa me disse “me frustra que eu não tenha chegado mais longe, me sinto estagnado”. Eu quase gritei com a pessoa, de verdade. A história que ela havia acabado de me contar estava recheada de superação, determinação, coragem e movimentos que desafiavam todo e qualquer obstáculo encontrado. A pessoa simplesmente havia acabado de me contar uma história de muitas vitórias e me dizia que não havia conquistado o suficiente e que se sentia estagnado. ESTAGNADO.
Uma pessoa que se virou do avesso, se reinventou e se desafiou incessantemente… e se acredita estagnado. É surreal que essa pessoa não se dê conta de tudo que realizou e agora se sinta frustrado quando poderia se sentir animado, motivado, entusiasmado, confiante… e por aí vai!
Eu respirei fundo, não gritei com a pessoa, e decidi aplicar a boa e velha estratégia de fazê-la escutar a própria história, mas agora como ouvinte de uma história alheia. Foi assim que eu lhe relatei sua própria história como se fosse minha. Foquei nos acontecimentos, despersonalizando nomes e sobrenomes. Ao terminar o relato, eu via no seu rosto um mix de emoções: a inevitável admiração por escutar uma história potente e, ao mesmo tempo, uma resistência de assumir o reconhecimento dessa potência.
O que te impede de reconhecer suas vitórias?
Cada um de nós dará respostas diferentes e diversas sobre como lidamos com nossas vitórias, alguns de nós talvez tenhamos a capacidade de reconhecê-las, honrá-las e celebrá-las, mas o que vejo na prática é que muitos e muitos de nós simplesmente não conseguimos sequer pontuar nossas vitórias. A gente até fala delas em um relato despretensioso, mas não damos a estes eventos o nome de conquistas, de ganhos, de merecimentos, de legítimas vitórias. Damos o nome de “mais do que minha obrigação”.
Eu já vivi anos da minha vida acreditando que tudo que conquistei era “mais do que minha obrigação”, eu conheço intimamente essa mentalidade e os efeitos que ela traz para nossa (in)capacidade de reconhecer nossas realizações. É triste, a verdade é essa. Parece glamouroso ser alguém que tem régua alta e que nunca está satisfeita com nada que alcança e sempre se exige mais. É mais que triste, é desrespeitoso. É desrespeitoso com todas as versões de você mesmo que se dedicou, enfrentou desconfortos, superou desafios e foi capaz de chegar no melhor lugar possível.
A gente acha que ser insatisfeito consigo mesmo nos levará mais longe, que reconhecer nossas vitórias é se acomodar, mas este caminho é desonroso. Você basicamente está dizendo para si mesmo “você não é uma pessoa boa o suficiente, você não tem valor, você não é digno de ser uma pessoa vencedora”. Não importa quantas vitórias você acumule, você não deixa que elas se convertam em vitórias reais.
Reconhecer minhas vitórias é assumir meu poder de vencer
Muitos tapas na cara depois e muitas pessoas me ajudando a enxergar minha história com os olhos de como eu enxergaria se fosse a história de outras pessoas e, finalmente, eu comecei a falar “uau, olha isso que eu conquistei! uau, que vitória isso que eu fui capaz de fazer!”.
Eu agradeço imensamente todas as pessoas, teorias e reflexões que me ajudaram a chegar nesse ponto. Quanto mais eu me reconheço, mais eu me sinto potente para conquistar o que quiser. Quanto mais eu reconheço minhas pequenas e grandes vitórias, mais eu me sinto confiante para agir e fazer acontecer. Eu passei a agir por ânimo e motivação real, não por me sentir na obrigação de fazer. A verdade é que reconhecer minhas vitórias me fez perceber que eu sou uma pessoa vencedora. Nos pequenos e grandes detalhes, eu sei que eu posso alcançar inúmeras conquistas. E isso é meu. Esse poder de conquistar e vencer é meu. E eu posso usá-lo como eu quiser, na medida que eu quiser. Porque eu entendi que o que me é possível, é suficiente para aquele momento, No momento seguinte, eu posso usar minha capacidade de vencer para conquistar outras possibilidades.
Que tal tentar você também?
Escreva a história de algo que você enfrentou, pode ser o desconforto de ter uma conversa difícil com seu gestor ou sua equipe, pode ser entregar uma meta no prazo, pode ser conseguir levantar da cama para ir trabalhar em um dia de muito baixo astral… Escreva cada detalhe de como essa situação foi difícil pra você e de como foi importante ter conseguido superá-la. Escreva em terceira pessoa. Saia da sua história e leia de fora. Você consegue se dar conta daquilo que conquistou, naquele instante, naquele evento, naquela situação?
Reconhecer nossas vitórias é um exercício diário, é uma filosofia de vida, é uma forma de olhar para si e para o que somos capazes de fazer. É uma escolha de se dar o direito de ter aquilo que te pertence: suas conquistas.
Gracias,
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