Como liderança, uma das coisas que mais me preocupa é sempre saber em que medida estamos utilizando, RACIONALMENTE, uma nova tecnologia nas empresas e não impondo mais obrigações e obstáculos para a eficiência das equipes e organizações. É por isso que eu fiquei em choque quando revi, recentemente, o filme Brazil: O Filme, lançado em 1985 pelo cineasta Terry Gilliam. A película tem mais a nos ensinar do que você pode imaginar!
A distopia do “Brazil”
Sempre estou procurando ou identificando paralelos entre a arte e a vida real. Afinal de contas, a arte não apenas imita a vida como muitas vezes explica a vida. E existe tanta coisa para ser explicada… especialmente para nós, que estamos constantemente procurando saída para problemas através de histórias e personalidades inspiradoras.
Quando vemos alguma inovação, alguma ideia que deu espetacularmente certa; quando lemos sobre alguém que, apesar de todos os contratempos, mudou o jogo, temos nos sentimos inspirados. Nós, como liderança, sonhamos em conduzir uma equipe que, verdadeiramente, transforma.
Só que… Também somos lideranças. E, entre as nossas funções, está dizer ”não”. E negar algo é muito mais fácil do que aceitar. Por isso, muitas vezes eu me pergunto: e se eu, mesmo sem querer, estiver montando um sistema que nega novas ideias, nega novas saídas, sem que eu saiba? E se o meu impulso pela inovação e pela horizontalização da liderança não estiver apenas na minha cabeça? E se toda a transformação digital que eu estimulo na verdade não está apenas complicando a vida?
Porque acreditem: isso é bem comum. Não é à toa que cada vez mais se pedem coisas dos líderes como liderança humanizada, o uso pontual da tecnologia para resolver problemas reais e um sistema de liberdade maior, inspirado na metodologia ágil. Porque todas essas coisas precisam ser usadas racionalmente. Senão se transformam em apenas um novo nome para velhos problemas.
É por isso que eu fiquei em choque quando revi, recentemente, a obra cinematográfica Brazil: O Filme, lançado em 1985 pelo cineasta Terry Gilliam. Muitos devem conhecer este cineasta pelo seu trabalho no filme O Pescador de Ilusões (1991), O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus (2009), e Os 12 Macacos (1995). Assim como no último filme, Brazil lida com um mundo futurista, em que a tecnologia e a burocracia mandam na humanidade.
A trama: burocracia, política e tecnologia nas empresas
A trama segue o funcionário público Sam Lowry (Richard Pryce). Por causa de um erro na impressora do sistema de notificações de mandados de prisão do governo (uma mosca fica engatada no jato de tinta), o sapateiro Archibald Buttle é preso (e morto) no lugar do rebelde Archibald Tuttle. Sam é mandado pelo governo para ir à casa da viúva dar uma compensação em dinheiro (sem informar o que aconteceu como falecido) e encontra, no lugar dela, uma vizinha: Jill. Sam fica impressionado — ela se parece com uma mulher com quem ele sonha constantemente.
Jill informa a Sam que ela está tentando ajudar a viúva a descobrir o paradeiro de Archibald Tuttle. Porém, a burocracia, máquinas que falham constantemente, informações desencontradas, e o excesso de formulários necessários para se descobrir o paradeiro do desaparecido são um problema constante. Adicionado a isso, Sam tem seus próprios problemas com o governo: o ar-condicionado do seu apartamento e do seu local de trabalho não funcionam e ele é constantemente forçado a fazer trabalho repetitivo, insignificante, e entediante. Ao reclamar, é ameaçado de ser relegado a funções mais baixas e, pior, como um rebelde subversivo.
Como a tecnologia nas empresas tem sido usada na realidade?
As implicações políticas do filme são óbvias — mas nós, como lideranças, também não corremos o risco de estarmos dentro dele. Mesmo o mais “moderno” dos líderes ainda pode estar dentro do paradigma da burocracia tradicional. Na realidade, eu creio que muitos deles estão: o enorme interesse que as lideranças mundiais têm em metodologias inovadoras, dinâmicas, e lean é um indicativo disso.
Porém, ainda falta a assimilação disso na prática verdadeira. A burocracia e a rigidez ainda são o “default” em muitos casos. É por isso que, como diz o especialista Paul Dandurand, há muitos projetos ágeis que na realidade são waterfall .
Para vencer o paradigma antigo, é preciso ser verdadeiramente o que acusam Sam Lowry de ser em Brazil: um verdadeiro transgressor. Um transgressor moderno.
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