Muito se fala, pouco se tolera. Quantas frases prontas você já ouviu sobre a tal cultura de abraçar o erro? “Fail fast!”, “Testar, errar e aprender!”, “o erro é o caminho do acerto!”, “precisamos errar para aprender”... e por aí vai, frases e mais frases de empoderamento ao erro. Mas quantos destes discursos realmente se convertem em tolerância real ao erro? O que vejo são falas de motivação sendo jogadas ao vento, enquanto na prática pouco se tolera e pouco se cultiva a cultura do erro construtivo.
E talvez aí esteja um ponto importante a ser considerado: o erro construtivo. A verdade é que a maioria de nós ainda associa o erro a algo destrutivo. Depois de tantos livros e teorias e artigos e pessoas famosas e bem sucedidas falando sobre a importância do erro, racionalmente a gente entende a ideia. Mais que entender, a gente defende esta ideia. A gente realmente tem interesse em viver esta ideia. Mas a gente ainda está demasiado preso na nossa visão limitante e introjetada de que o erro irá acabar com tudo, que o erro é um inimigo, que o erro me levará ao fracasso, não importam quantas pessoas bem sucedidas me digam que tiveram sucesso por causa do erro.
É um paradoxo, afinal. Eu quero abraçar o erro e torná-lo parte do meu processo de aprendizagem e crescimento, mas eu não sustento correr o risco das consequências negativas do erro. Eu preciso errar para evoluir, mas se eu errar eu vou fracassar. Então, o que devo fazer?
Bem, o que fazer depende do tipo de mentalidade que você quer nutrir. Se você quer seguir nutrindo um estado de manutenção da sua segurança, então você deve mesmo evitar o erro. Se você quer abrir a cabeça e o coração para a incerteza dos caminhos de crescimento, então você deve começar a cometer erros já.
Mindset de manutenção vs. mindset de crescimento
Carol Dweck, no seu famoso livro Mindset, explora bastante bem estes dois vieses de mentalidade. Mindset de manutenção (que a Carol chama de mindset fixo) vs. mindset de crescimento. Ela nos convida a perceber como o mindset de crescimento nos leva a abraçar o desconhecido e assumir riscos em nome de explorar novas possibilidades. O mindset de crescimento é uma forma de inquietação com o estado das coisas, uma crença de que vale a pena se colocar à prova e lidar com consequências difíceis, em nome de ir além. Na contrapartida, o mindset de manutenção (ou fixo) é cauteloso, protecionista e acaba por nos manter sempre nos mesmos lugares seguros e conhecidos.
Eu não ousaria dizer que um é melhor do que o outro, se o fizesse estaria aniquilando toda a subjetividade individual, que nos dá o livre arbítrio de ser e fazer o que pudermos e quisermos com nossas escolhas de vida. O que sim posso te dizer é que eu, particularmente, acredito muito na potência do erro como impulsionador do nosso crescimento. Acredito que caminhos seguros não nos deixam desbravar novas possibilidades, diminuem o alcance da nossa visão e nos fazem tomar decisões por medo.
Acredito que abraçar e tolerar o erro é como dar um voto de confiança, é preferir tentar imperfeito do que ficar preso numa inalcançável busca de perfeição, É acreditar que fazer o que der é melhor do que não fazer nada. Se eu posso melhorar um pouco este cenário, eu vou arriscar e tentar, ainda que eu falhe no final, porque tentar fazer melhor, para mim, é mais interessante do que nem sequer tentar, pelo medo de falhar.
A (in)tolerância ao erro nos sistemas organizacionais
Nesta altura, talvez você me diga que tudo isso é muito legal e estimulante, mas que, na prática, abraçar o erro não depende só de nós, porque nos sistemas organizacionais nos quais estamos metidos, em geral, não há tolerância ao erro. Então, se eu me arrisco a errar, eu arrisco sim ser mal visto, mal avaliado, mal remunerado, e até mesmo estar desempregado. E é verdade, se estamos inseridos em contextos de tamanha intolerância ao erro, estamos mesmo arriscando duras consequências, que muitas vezes não podemos nos dar ao luxo de enfrentar.
Ainda assim, no auge do meu otimismo, eu acredito que sempre há brechas. Talvez eu não possa correr o maior dos erros, talvez eu não possa desbravar o mais desconhecido dos caminhos, talvez eu não possa arriscar a mais disruptiva inovação, talvez eu não possa fazer o que diria Mark Zuckerberg e “move fast and break things”. Mas o que vejo, lidando com uma vasta diversidade de empresas e perfis de pessoas, é que sempre podemos abrir um pouquinho mais a cabeça para o novo, para o incerto, para o imperfeito, para o incompleto, para dar um passo em direção a sair da rigidez e flexibilizar idéias, projetos, processos e soluções. Sair da nuvem do medo que me faz achar que todo erro é um grande problema e passar a tolerar ao menos os erros mais simples e gerenciáveis
Talvez eu esteja sendo esperançosa demais, mas eu gosto de pensar que estou sendo apenas uma otimista-realista. Me conta o que você acha?
🙂
Gracias,
Siga a UNI.CO no Linkedin para acompanhar os novos artigos da Maju, sempre trazendo discussões importantes para a área do Desenvolvimento Humano Organizacional (DHO).