Como você lida com a toxicidade emocional do dia a dia?
Você está (finalmente) concentrado trabalhando e alguém te chama, pelo WhatsApp, pelo chat, pelo slack, pelo teams…, imediatamente como você reage? Você está (exaustivamente) lutando com uma ideia que ainda não ganhou forma e alguém te pede atenção, vem na sua direção, te cutuca, fala seu nome, ri alto…, imediatamente como você reage? Você está aproveitando seus poucos (e raros) segundos de silêncio e alguém te desperta, te atravessa, te corta, te suga de volta para o mundo dos estímulos…, como você imediatamente reage?
Nossa reação interna e externa são espectros muito diferentes da mesma realidade. É bem possível que para cada um desses simples e cotidianos exemplos que citei, você tenha imaginado reações diversas e opostas. Por um lado, as situações descritas nos evocam incômodo, chateação, irritação, impaciência. Por outro lado, estas mesmas situações nos convidam a segurar a onda e ser polidos, educados, solícitos, colaborativos.
Por dentro a gente queima, por fora a gente se controla. Quantas vezes já se sentiu assim? Dominando o indominável, quando o que eu queria mesmo era liberá-lo? Quantas vezes eu quis dizer “esqueça que eu existo, não fale comigo, me deixe em paz no meu recanto de concentração, ideação e silêncio”? Quantas vezes eu quis gritar isso a plenos pulmões e o que em realidade fiz foi responder com um sorrisinho no rosto e um “sim, pode falar”. Afinal, que feio e inadequado seria se eu colocasse pra fora todo esse turbilhão de incômodos que me atravessam cotidianamente, não é mesmo?
A toxicidade emocional não desaparece
Se eu não vomito pra fora, eu vomito pra dentro. A toxina gerada não se esvai, simplesmente. Uma reação polida, educada e controlada não limpa a toxicidade emocional: chateação, a irritação e a impaciência despertadas em mim. Ela na verdade piora, alimenta. Eu já estou farta e ainda tenho que engolir tudo isso. Engolir meu próprio incômodo. A gente fala tanto da geração saúde, da consciência sobre nossa alimentação e dos nossos hábitos com o corpo (não que sejamos bons em aplicar tudo isso, mas seguimos falamos sobre), e já parou pra pensar em quais alimentos emocionais você está cotidianamente ingerindo? Quantas vezes no dia você engole seco situações indesejadas?
A esta altura talvez passe pela sua cabeça que estou te convidando a sair dizendo tudo o que pensa sem filtro e sair vomitando todos os incômodos acumulados. Pois bem, não é nada disso. Este texto não é um convite para vomitarmos, nem para dentro nem para fora. E sim para cuidarmos da nossa digestão, da nossa capacidade de digerir nossas emoções para podermos então reagir no mundo de uma forma mais saudável, para mim e para o outro. É um convite para encontrarmos um pouco mais de equilíbrio, de homeostase, de trocas fluidas entre nosso ambiente interno e externo.
Pergunte-se: como eu estou hoje?
Eu posso passar uma vida inteira fingindo que está tudo bem e que a polidez me é natural, isso provavelmente só vai me corroer por dentro, enquanto sustento cara de plena. Mas a verdade é que habitam em mim diversos incômodos, diversas raivas e diversos cansaços. E a cada estímulo e cutucada externa que eu engulo sem digerir direito, mais eu alimento todas essas emoções que me habitam. Então, olhemos para elas. É chegada a hora de olhar e reconhecer e assumir: hoje, vivem em mim, tumultuadas emoções. Hoje, eu não tenho disponibilidade para ter uma troca saudável com o mundo. Hoje, eu preciso de um tempo para digerir sozinha. Hoje, você não pode contar comigo, porque eu preciso olhar pra mim.
Hoje, eu preciso olhar pra mim.
E, olhando pra mim, eu talvez possa diminuir os estímulos que engulo, limpar parte das toxinas, investigar minhas indigestões e, então, resetar minhas ações e reações.
É necessário ser brutalmente honesto consigo mesmo
Às vezes, o que fazemos é apenas nos desligar do mundo e apagar tudo temporariamente. Por um instante parece que tudo melhorou, mas no dia seguinte eu volto para meu bom e velho hábito de engolir tudo sem escolher caminhos saudáveis e sustentáveis e me deixando levar pelo ímpeto de parecer sempre plena. É aí que pouco a pouco a indigestão aponta, retorna e me sufoca. Olhar pra mim passa por ser brutalmente honesta com o que sou capaz de lidar, a cada instante. Hoje sou capaz de mais, amanhã sou capaz de menos. Olhar pra mim é conhecer-me nesta intimidade para, então, quem sabe, tomar o valor necessário para mudar o rumo, refazer os passos, reestabelecer uma dieta que me nutre e me permite agir e reagir de forma mais homeostásica com o mundo. Com trocas orgânicas, fluidas, que contribuem pro nosso equilíbrio, interno e externo.
Não é sobre dar um shutdown no mundo, é sobre fazer uma melhor digestão da sua forma de se relacionar com ele. Já olhou para sua digestão emocional, hoje?
Gracias,
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