O aparelho pode não ter sido tão famoso no Brasil, mas dominou o mercado de telefonia global na primeira década desse século, tornando-se um símbolo de status no cenário corporativo. Infelizmente, o aparelho não sobreviveu à evolução dos celulares e atualizações do mercado e sumiu tão rápido quanto ascendeu. E isso foi narrado no filme “Blackberry”, lançado este ano.
Os anos 2000 foram marcados por muitos itens cobiçados, mas o mundo corporativo ficou famoso ao aderir o Blackberry como aparelho preferido e a mais recente evolução dos celulares.
Para quem não lembra, estes aparelhos foram amplamente usados e considerados um símbolo de status entre profissionais por causa da sua capacidade de enviar e receber e-mails, um teclado físico que facilitava a digitação e um sistema de segurança considerado robusto. Ou seja, ele foi o verdadeiro precursor dos smartphones.
Graças a essa popularidade no mundo corporativo, a empresa canadense responsável pelo Blackberry, a RIM, alcançou 45% do mercado de telefonia dos EUA. Contudo, a empresa acabou caindo tão rápido quanto subiu e hoje mal é lembrada no cenário de aparelhos celulares.
Então, este ano foi lançado o filme que conta a história da empresa, focando nos bastidores da ascensão e queda tanto dela quanto do seu aparelho. A adaptação é baseada no livro de Jacquie McNish, tem o roteiro assinado por Matthew Miller e Matt Johnson, que também é o diretor.
A história do filme Blackberry mostra ascensão e queda de um importante modelo na evolução dos celulares
O filme destaca a euforia inicial, a ascensão vertiginosa e a queda abrupta da empresa diante do avanço tecnológico representado pelo iPhone.
Para contar essa história, ele começa acompanhando Mike Lazaridis (Jay Baruchel) e a sua ideia de mesclar um computador com um celular até o ponto onde ele se encontra com Jim Balsillie (Glenn Howerton), que atua no mercado financeiro e propõe que eles fundem uma empresa. É esta união que dá início a RIM, que ascende rapidamente com o lançamento do Blackberry.
Os dois CEOs têm suas discordâncias, contudo, a trama não se estende no período de ouro da empresa e já começa a abordar a chegada do principal concorrente do Blackberry, o Iphone, lançado em 2007.
Esta evolução dos celulares no mercado de telefonia, marcada também pela popularização dos dispositivos Android, fez com que o BlackBerry perdesse sua relevância e o filme narra a falta de visão por parte de toda a RIM para se manter relevante no mercado.
Narrativa focada em linearidade com um toque de comédia
A escolha de Jay Baruchel pode ter surpreendido muitos espectadores, não só porque o ator estava longe das telas desde seu trabalho em “Como treinar o seu dragão”, mas por ele ser comediante. Contudo, o tom de Blackberry foge do que tem sido feito em filmes biográficos recentemente.
Nele, não há glória, lições de triunfo e declínio com muito drama, mas uma narrativa focada em contar uma história do seu início ao fim de forma que ela seja mais protagonista do que seus personagens.
Além disso, o filme não se vale de reviravoltas, afinal a história já é conhecida, mas conta com ironias, humor seco e trejeitos, principalmente por parte de Baruchel. A dinâmica dos dois CEOs é outro ponto que busca trazer emoção ao espectador, valendo-se da capacidade já conhecida de Glenn Howerton de interpretar personagens frios e cruéis, como em “It’s always sunny in Philadelphia”.
Por fim, Blackberry conta a história que se propõe a narrar, mas pode cair no desinteresse de muitos espectadores que não queiram saber tanto dos bastidores de um dos maiores celulares da história, principalmente quando o filme se alonga por cerca de duas horas.
Para mim, que acompanhei a RIM dominar o mercado de telefonia e agora oferecer serviços de cibersegurança quase no esquecimento, o filme traz uma boa visão do que faltou para que a empresa fosse um grande player no mercado de smartphones atualmente.
E o filme conta muito bem como isso (não) aconteceu.
— Por Ernesto Schlesinger
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