A série narra bastidores dos primórdios da história da Uber e a queda do fundador.
Preparem seus sofás, suas pipocas e seus estados de espírito!
Aqui vai uma super dica de uma série baseada em fatos reais, super bem produzida, com um “casting” de alto nível, belíssima trilha sonora (Pearl Jam, Judas Priest entre outros) e um enredo de tirar o fôlego a cada novo episódio! Essa é para maratonar sem piedade!
O case da Uber é citado exaustivamente quando o assunto é disrupção. Mas o que está por trás dos bastidores que fizeram da Uber um gigante do Vale do Silício? Desvendar esse mistério é a missão da série Super Pumped: a Batalha pela Uber, do canal Showtime, disponível no Brasil pela Paramount+.
A história da Uber
A produção conta a história de Travis Kalanick (interpretado por Joseph Gordon-Levitt), o fundador da Uber, expulso da própria empresa em 2017 por conta de uma série de condutas bastante suspeitas. A trama é baseada no livro “A Guerra Pela Uber”, de Mike Isaac, repórter de tecnologia do NY Times que reuniu um verdadeiro dossiê sobre a verdade por trás da gigante de tecnologia.
Focada em mostrar o início da companhia por volta de 2009, Super Pumped retrata o perfil de um empreendedor repleto de frases de efeitos e do jargão das startups, extremamente agressivo, narcisista e um tanto descontrolado. O contraponto do CEO é o investidor/mentor Bill Gurley, o dono do dinheiro, que assume uma postura cética e assiste aos excessos de Travis, muitas vezes, de forma apática.
Uma das primeiras startups a ser chamada de “unicórnio”, a Uber não apenas desafiou um setor extremamente antiquado e inflexível, como buscou mudar o mundo. É justamente essa ambição que tornou a empresa uma máquina imparável de crescimento, mas que, muitas vezes, acabou deixando um rastro de destruição.
Travis Kalanick
Travis é um empreendedor sagaz e persistente e ele vai usar de todas suas armas para conseguir o que quer! Ele comanda a equipe com energia e usa uma tática de priorizar o poder ao invés da inspiração. O que ele busca, o tempo todo, é tornar-se um mito, alguém capaz de tudo, idolatrado por seus seguidores. E isso funciona à medida que ele é capaz de negociar muitas vantagens interessantes com investidores, ao mesmo tempo em que coloca as ideias para funcionar. Porém, essa estratégia tem seu preço.
Sua tenacidade faz o negócio prosperar e ganhar espaço no mercado. Travis cria uma atmosfera de culto, onde ele é o ser supremo e não pode ser contrariado. Sem ouvir ninguém, ele se torna um rei mimado que passa a cultivar hábitos pouco saudáveis para o negócio.
Apesar das boas ideias e do talento nato para negociações, o líder se perde quando o assunto é governança e começa a criar um ambiente tenso e tóxico que lhe rende inimizades e faz com que a fidelidade dos seus seguidores comece a diminuir. A arrogância e a ganância foram o início do fim.
A história da Uber: a queda
Durante muito tempo, a Uber passou longe de ser uma empresa boa para trabalhar. Uma série de documentos comprovam práticas ilegais e abusivas cometidas diariamente pela companhia, incluindo informações financeiras duvidosas. As táticas de crescimento da Uber deram um golpe mortal na ética e na moral organizacional.
Primeiro, a organização precisava derrubar o sistema de transporte local, principalmente os taxistas. Para conseguir isso, não havia limites, incluindo colocar a opinião pública contra a categoria. Vendendo a ideia de liberdade no trabalho, aumentar os ganhos e de dirigir sem um horário fixo, a Uber usou os motoristas como forma de pressionar os políticos a aprovarem as regras impostas pela empresa.
Durante toda a série, Travis é especialista em dar discursos acalorados, com termos exagerados e acessos de grandeza. Ele usou essa habilidade para motivar pessoas a largarem os empregos e comprarem a ideia por trás da Uber. Mas bastou conseguir a vitória no debate público, que a Uber virou as costas para os motoristas.
Uma série de escândalos em sequência, expostos pela postagem viral de 2017 de Susan Fowler, ex-funcionária da Uber, expôs a cultura tóxica em que os assédios de caráter moral e sexual eram aceitos desde que as metas fossem alcançadas. A direção fechava os olhos para os abusos, a favor de estabelecer um tipo de camaradagem machista e que criasse um ambiente opressor.
Festa com substâncias ilícitas fazem parte da história da Uber
Entre outras estratégias de crescimento, Travis incentivou a espionagem de motoristas, usou dados de passageiros e chegou ao ponto de sugerir uma festa para colaboradores distribuindo substâncias ilícitas sob o pretexto de que isso aumentaria a produtividade.
Aquilo foi demais, até mesmo para as pessoas que até então haviam apoiado a megalomania de Kalanick. A diretoria e investidores orquestraram um golpe para afastá-lo de suas funções. A Uber abriu o capital, o fundador ficou bilionário, e acabou vendendo o restante de suas ações em dezembro de 2019.
Super Pumped ilustra como Kalanick e outras figuras como ele são produtos de uma indústria que adora criadores de mitos que se auto engrandecem. No fundo, os mesmos elementos que alçaram a empresa ao sucesso extraordinário, acabaram contribuindo para a queda meteórica do fundador.
O estilo de liderança usado na Uber envolveu uma dose de lucro a qualquer preço, que se mostrou insustentável no longo prazo. Apesar da energia caótica e persistente de Travis ser benéfica para impulsionar o negócio da empresa, ao ponto de uma startup estar entre as empresas mais valiosas do Vale do Silício em pouco tempo de vida, aos poucos ela se mostrou nociva. Funciona como o ditado: a diferença entre o remédio e o veneno é a dose.
PS: A segunda temporada de Super Pumped já foi confirmada e contará os bastidores do Facebook. Imperdível!
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