Atuar é agir em prol. E o teatro organizacional é o palco dessas diversas atuações.
Pode parecer pejorativo dizer que dentro das instituições organizacionais opera uma dinâmica teatral, como se isso fosse o oposto de uma dinâmica autêntica. Bem, não é exatamente assim que eu vejo. Não acredito que a autenticidade seja, necessariamente, agir como eu quiser sem filtro e sem deliberação — isso, para mim, se chama agir por impulso. A autenticidade, para mim, tem mais a ver com atuar de uma forma verdadeiramente escolhida por mim, agir com a minha própria autoria, sem dissimulação ou cópia (consciente ou não). A atuação autêntica é deliberada, calculada e, então, executada.
O mundo das Artes X o teatro organizacional
Pensemos esta lógica aplicada ao mundo das Artes. O que é uma obra autêntica? Aquela que é original, ou seja, que origina da minha própria autoria e que não é uma cópia ou falsificação de outra obra já existente. Isso não significa que uma obra autêntica não seja influenciada pelos movimentos artísticos já existentes, ela, sim, é influenciada e ela se molda aos contextos vigentes! E, a partir da deliberação sobre estas influências e estas necessidades de adaptação, ela é criada à sua maneira. Autêntica, ainda que influenciada e moldada.
Portanto, voltando ao tema do teatro organizacional, não acredito que a dinâmica de atuações modulares dentro de uma empresa seja algo pejorativo e não-autêntico. Pode, sim, se tornar uma verdadeira várzea de dissimulações e trapaças, mas não necessariamente o é.
Se pensarmos que o mundo organizacional é uma comunidade de pessoas conhecidas e desconhecidas que, juntas, estão tentando convergir interesses, podemos entender melhor porque é natural que as pessoas sejam influenciadas umas pelas outras e modulem suas atuações de forma a potencializar esta convergência de interesses. Se cada um saísse agindo impulsivamente, sem entender quais são as atuações que mais beneficiam o resultado final, os grupos simplesmente se chocariam a todo momento.
As organizações, assim como as relações sociais e familiares, são grandes redes de articulação de interesses, são grandes redes de influência dentro de um contexto de múltiplas complexidades.
Se não sou capaz de ler esta complexa rede de interesses e necessidades, não serei capaz de compreender quais atuações melhor geram articulação e influência positiva. Atuar é agir em prol. E o teatro organizacional é o palco dessas diversas atuações.
O verdadeiro significado de “teatro organizacional”
Teatralizar não significa perder a conexão com o que é verdadeiro. Na verdade, passa por entender o que é real e verdadeiro para, então, encontrar uma forma de manifestar isto através de diversas atuações que melhor se adaptam aos contextos e públicos. Uma pessoa que é atriz ela imerge no que é real antes de atuar, e ela atua em prol deste real, encontrando maneiras e formas de melhor expressá-lo.
Talvez, diante de uma equipe cética, a melhor forma de atuar, em prol da real necessidade de colaborar, seja levando fatos e dados muito bem estruturados e tendo uma comunicação direta e assertiva. Talvez, diante de uma equipe criativa, a melhor forma de atuar, em prol dessa mesma necessidade real de colaborar, seja levando ideias e possibilidades e tendo uma comunicação motivadora e expressiva.
A mesma pessoa atuando de formas diversas, nos diferentes palcos organizacionais, em prol de convergir interesses reais. Isso é um autêntico teatro.
Podemos escolher como atuar em cada momento
Quem já teve o prazer de fazer aulas de teatro sabe muito bem que não somos ensinados a atuar fingidamente, ou seja, atuar sem ter um propósito real, sem conhecer o que é verdadeiro e apenas imitando outros, sem encontrar nossa própria voz. Todo o contrário, o teatro nos ensina a libertar nossa autenticidade, a imergir nas profundezas e, então, trazer para a superfície do palco formas e contornos que melhor expressam estas verdades descobertas, em prol de sensibilizar e engajar os diversos públicos. O teatro nos ajuda a entender que somos plurais, que em nós habitam várias formas de ser e agir, e que podemos escolher como atuar em cada momento.
Portanto, deixemos de lado os preconceitos para podermos encarar a importância de sabermos atuar dentro dos variados contextos e grupos. Sempre cuidando para que esta atuação seja propositiva e autêntica, e não uma várzea de dissimulações que só atendem aos meus interesses próprios e esquecem que o teatro, assim como as organizações, são feitos para melhor atender ao grande público.
Então, neste momento, em prol do quê você precisa atuar?
Gracias,
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